Ópera censurada de Chiquinha Gonzaga será tocada pela primeira vez no Guaíra
A obra é o destaque do último fim de semana do Festival de Ópera do Paraná, que tem programação gratuita até domingo (29)
- DA REDAÇÃO, COLABOROU MATHEUS NASCIMENTO
- 25/10/2017
- 14:04
Montagem da Cavalleria Rustica na sexta (20) e no domingo (22) lotou o Guairão nos dois dias. Foto: Marcus Bonato/Divulgação.
O 3º Festival de Ópera, que começou na última sexta (20) vai até o próximo domingo (29) em Curitiba, tem algumas surpresas: além de obras conhecidas como Carmem ou A Flauta Mágica, o palco do Guairão recebe no sábado (28) a estreia de Festa de São João, obra inédita da compositora Chiquinha Gonzaga (1847-1935), composta no século XIX, e que foi restaurada com o auxílio de Gehad Hajar, coordenador do festival.
“Foi a primeira peça que ela escreveu para o teatro [em 1879], mas ela foi proibida de apresentá-la por ser mulher, então, permaneceu guardada por 138 anos”, conta Gehad. Ele auxiliou os pesquisadores que trabalham com o acervo de Chiquinha, publicado integralmente na internet, a juntar os pedaços da obra criada naquela época. Agora, a peça com elementos de maxixe (Chiquinha foi a primeira compositora erudita brasileira a incorporar o ritmo, à época visto como imoral) ganha enfim o palco de um teatro.
Nos primeiros dias de festival, a maior comoção foi causada pela grandiosa produção da Cavalleria Rusticana, ópera italiana de Pietro Mascagni que levou à cena quase 110 cantores, dois cavalos, uma orquestra sinfônica completa e um corpo de baile. Apresentada nos dias 20 e 22, lotou o Guaíra nas duas apresentações.
“Nunca tinha sido aplaudido de pé no meio da execução de uma obra”, afirma Gehad. Para ele, o grande objetivo do festival é levar a ópera ao grande público, torná-la acessível em todos os aspectos. A grande estreia de Festa de São João, por exemplo, vai ter tradução em libras em tempo real. “A visão de que a ópera é para a elite é errada. Ela é um gênero popular, tem várias subdivisões”, afirma.
Outra característica que chama atenção de Gehad Hajar é que, até o momento, mais da metade do público dos concertos foi formada por jovens, público que geralmente não é muito associado ao gosto por música lírica. “Isso nos deixou muito felizes, porque mostra que existe um público cativo para a obra”, considera ele.
A programação até o domingo inclui operetas infantis, ópera rock e concertos de solistas de todo o Brasil, além de masterclasses de instrumentos diversos. Nas óperas, Carmem de Bizet retorna ao Guaíra poucas semanas depois do espetáculo de balé que marcou a estreia dos novos elencos do Balé do Guaíra e também da Sinfônica do Paraná. Dessa vez, porém, a obra encenada será a ópera original, em versão exclusivamente orquestrada.