Rejeitada em 1879, opereta inédita de Chiquinha Gonzaga será encenada
Acervo Edinha Diniz/Divulgação | ||
A compositora Chiquinha Gonzaga (1847-1935) |
Uma estranha coincidência liga o dramaturgo norueguês Henrik Ibsen (1828-1906) à compositora brasileira Francisca Gonzaga (1847-1935), a Chiquinha Gonzaga.
Ambos escreveram, no início da carreira, obras que se passam na noite de São João. Fracassaram por causa delas e só depois conseguiram atingir grande reconhecimento.
No caso de Chiquinha, era uma comédia romântica e leve, "Festa de São João", opereta com 24 cenas rejeitada em 1879, quando escreveu o libreto.
Mesmo depois do sucesso e da afirmação como compositora e maestrina, atividade mal vista à época para mulheres, a obra ficou engavetada até o restauro da partitura, em 2014.
A estreia nos palcos desta peça inédita da compositora acontece neste sábado (28) em Curitiba, no 3º Festival de Ópera do Paraná. O espetáculo terá três solistas, o ator Emílio Pitta como padre, coro de 27 crianças e 21 adultos, 14 bailarinos e uma pianista.
O diretor Gehad Hajar, 34, restaurou o texto do libreto neste ano para que integrasse a programação do evento.
"Estava uma bagunça, as páginas misturadas. Coloquei tudo no chão e fomos acertando a ordem lógica da narrativa", conta. Havia trechos em espanhol, e o conjunto todo estava fora de prosódia —quando as sílabas não coincidiam com a nota a ser cantada.
Divulgação | ||
Libreto original da opereta 'Festa de São João', de 1879 |
Para Hajar, restaurar e montar "Festa de São João" é uma "questão de justiça". Chiquinha indicou ainda na partitura entradas de tímpano, flautas, cordas, trompa e clarinete, mas não há registro desses trechos musicais na peça.
O enredo começa com folguedos de São João num cenário campestre. De sorumbático e pesaroso, "ibseniano", apenas o espírito amargurado do mocinho, Luiz. Mas, assim que ele chega da cidade grande a essa vila no interior, encanta-se com a fé simples dos camponeses e se apaixona pela doce Rosinha, voltando a crer e apaziguando a alma.
"Sofri muito meu anjo, oxalá que sempre ignores os martírios deste mundo tirano", diz Luiz a Rosinha. E ele acha sua resposta no ideal nativista: "As aldeias...nelas encontra-se a pureza e a verdade, símbolo de Deus!"
Ao optar por um tema popular no lugar dos mitos, com música ritmada em que entra maxixe, sapateado andaluz e até tango, Chiquinha inovou.
Para Hajar, poucos têm interesse nas óperas brasileiras —sua paixão— porque ela exige a "mão certa" para a música nacional. E cantores líricos teriam dificuldade com o próprio português, por estarem acostumados a cantar no alemão, francês ou italiano, as línguas mais costumeiras da ópera.
FESTA DE SÃO JOÃO
QUANDO sáb. (28), às 20h
ONDE Teatro Guairinha, r.15 De Novembro, 971, Curitiba
QUANTO grátis
QUANDO sáb. (28), às 20h
ONDE Teatro Guairinha, r.15 De Novembro, 971, Curitiba
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