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Música com sotaque paranaense

Orquestra Rabecônica do Brasil realiza amanhã dois concertos gratuitos em Curitiba


Orquestra Rabecônica: cultura paranaense e patrimônio imaterial do Brasil


Colher e tamanco servindo de instrumentos de uma música elaborada com equipamentos barrocos como rabecas e adufos que juntos contagiam dos pés a cabeça, alimentando a alma como um bom barreado e carregando o forte sotaque do povo paranaense. Essa é a essência musical caiçara e tropeira, presente em diversas manifestações culturais em todo o Paraná, que a Orquestra Rabecônica do Brasil, sob a regência do maestro Jaime Zenamon, irá oferecer em dois concertos gratuitos, com foco na formação de plateias, que serão realizados amanhã no Auditório Salvador Ferrante (Guairinha), em Curitiba.

As apresentações com cunho didático integram um conjunto de ações voltadas à salvaguardar esse patrimônio imaterial que, desde 2011, vem sendo reorganizado e preservado pelo mestre fandangueiro Aorélio Domingues, natural e morador da Ilha dos Valadares, em Paranaguá. "Aprendi com o meu avô a luteria e tudo que envolve a cultura fandangueira que, até então, estava muito fragilizada e se perdendo por completo. A partir de 2011, isso começou a mudar porque encontramos uma caminho para esse resgate, a partir dos músicos eruditos que aceleraram o processo de conhecimento organizado da nossa música".

Isso se deu ao fundir a organização do aprendizado formal de música a todo esse tesouro cultural que estava "escondido" com os poucos músicos nativos do litoral, que aprenderam com as gerações que os precederam. "Todo mestre fandangueiro, sabe cozinhar um bom barreado e domina a arte de preparar a goma que fica na borda da panela de barro. Isso porque o fandango e suas variações transcendem os limites da música, são uma maneira de existir no mundo e de uma forma condizente à essência do paranaense porque abrange tudo que envolveu a nossa formação", declara.

O violinista, tocador de adufo (espécie de tambor) e produtor da orquestra, Gehad Hajar, vai além para falar desse ritmo que cativa de maneira profunda o paranaense: "É uma música com o nosso sotaque. Por mais que tenham diferenças entre os sotaques de cada região, existe uma sonoridade que nos identifica como paranaenses e a batida do fandango reproduz perfeitamente isso", acredita.

Essa correlação entre música e o modo de viver paranaense se comprova no uso de utensílios inusitados como a colher ou o tamanco. "Enquanto o barreado cozia, a pessoa batia colher e isso foi incorporado ao ritmo, assim como o barulho do tamanco batendo no chão oco que virava uma grande caixa de ressonância e com magnífica sonoridade", esclarece. Ele conta que pelo que já foi resgatado no trabalho de investigação feito em torno da cultura caiçara, há ocorrências registradas em boletins policiais, de manifestações fandangueiras em ruas da capital, em 1928. "A Rua Paula Gomes, em Curitiba, homenageia um homem, um mestre fandangueiro chamado José Francisco da Paula Gomes. Em nossos estudos, já comprovamos que essa cultura vem antes da chegada dos portugueses ao Brasil, muito embora as influências africanas, ibéricas e açorianas tenham interferido profundamente nesse patrimônio imaterial que quase sepultamos por falta de um trabalho de valorização da nossa história", informa o produtor. "Os tropeiros que batiam fandango no Paraná levaram para os gaúchos o ritmo que, que com a mistura da música dos povos fronteiriços, deram outro caminho para o Fandango", acrescenta Hajar.

REPERTÓRIO
 
O programa que será executado no formato de concerto didático pela Orquestra Rabecônica do Brasil contará com 14 músicas de diferentes ritmos da cultura caiçara, dentre eles: Fandango, Incelenças de Guardamento, Folia do Divino Espírito Santo, Folia do Boi-de-Mamão, Músicas do Batido, Chamarrita e Dom Dom. "Antes de cada execução, iremos apresentar um pouco de toda essa história para o público. Para sermos abrangentes, adaptamos o concerto para atender de crianças a idosos", acrescenta o produtor.

Além dos tamancos e colheres, os 47 instrumentos da Orquestra Rabecônica do Brasil - rabecas do tamanho da viola clássica, do violoncelo e baixo acústico, violas, machetões, machetinhos, adufos e caixas - foram confeccionados pelo mestre fandangueiro Aorélio Domingues.
Todo esse trabalho de resgate, que inclui formação em luteria e música fandangueira, conta com o apoio do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), uma vez que o fandango foi registrado como a 25ª manifestação cultural, sendo assim, reconhecido como patrimônio imaterial. Pelos site ( www.mandicuera.org.br) é possível acompanhar todos o eventos promovidos pela Orquestra e o movimento fandangueiro.

Serviço
Concertos didáticos da Orquestra Rabecônica do Brasil
Data: segunda-feira (20)
Local: Auditório Salvador Ferrante - Guairinha
Horários: 14h30 e 16 horas
Ingressos: Entrada franca.


Magaléa Mazziotti
Reportagem Local

https://www.folhadelondrina.com.br/folha-2/musica-com-sotaque-paranaense-948597.html

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