Temos por axioma o
suspiro de Ferreira Gullar: A cidade está no homem, quase como a árvore voa, no
pássaro que a deixa.
Como desvendar as
memórias da cidade que estão em nós, e quantas de nossas memórias hão de vagar
pelas almas de nossos velhos caminhos, hoje agitadas ruas e avenidas?
Na certeza que quem
memora acaba agindo por resistência, a menina Isabel moradora da velha Rua do
Rio, hoje avenida Mariano Torres, novamente hasteia barra do vestidinho de
cambraia, para se aventurar em jornadas com a piazada no caudal do rio Belém,
hoje canalizado sob a via.
Muito querida –
chamada de ‘ovo de duas gemas’ por
sua mãe – foi educada em sua casa pela saudosa professora Miraci Cardoso de
Brito, coetânea de Helena Kolody no Instituto de Educação, que desde então
aprendeu a valorar a memória e seu registro.
Kolody, a grande
mestra quem a jovem Isabel pediu para que escrevesse uma poesia para o
namorado, aconselhou que ela própria transcrevesse o pulsar de seu coração em
palavras. O namorado tornou-se marido. E o conselho persiste até hoje em
suas inúmeras obras literárias.
Novamente Isabel
Sprenger Ribas levanta a veste de cambraia como quem desfralda uma janela ao
passado, para que não seja molhada pelo esquecimento, e que seus pés toquem a
água que verte como seu amor pelo Paraná que nasceu.
O Poeta que conversa
com a Nuvem Menina, envolta pela água que faz desta urbe alma de úmida
prosperidade, é um suspiro de todas as meninas e meninos que, dentro de nós,
são a Cidade de Curitiba.
Gehad Ismail Hajar
Editor