Um festival para o Paraná
O homem que não tem a música dentro de si
e que não se emociona com um concerto de doces acordes,
é capaz de traições, de conjuras e de rapinas.
Shakespeare, O Mercador de Veneza.
Há muito o Paraná merecia um evento que relevasse e incentivasse suas produções operísticas.
Fomos, no início do século passado, um dos maiores centros consumidores de música no Brasil, ao passo que desenvolvíamos os ritmos nativos e colaborávamos com a criação da música brasileira.
Companhias operísticas estrangeiras advindas do Rio de Janeiro e de São Paulo passavam pela pequena Curityba antes de rumarem à Buenos Aires.
Assim o foi com as companhias alemãs Augusto Papke, Tusher Urban e Lessing; com as italianas Ernesto Lahoz, Clara Weiss, Victor Romano, De Angelis, Santângelo, Tornesi, Ritoli e Biloro; a mexicana Esperanza Iris; com as espanholas Helena D’Algy e Maria Alonso, e as austríacas Paderewski e Margarete Slezak.
Deixaram todas elas marcas em nossos compositores, teatros, repertórios, e ritmos. Uma vez que influenciavam, sobremaneira, a educação musical. Léo Kessler veio à Curitiba através de uma desses companhias e aqui passou a residir. Benedicto Nicolau dos Santos, nome maior da música paranaense, tomou suas primeiras aulas com o maestro Adolfo Corradi, da Cia. de Zarzuelas Maria Alonso, como também Bento Mossurunga foi seu aprendiz.
Com a ameaça de desabamento e o conseqüente fechamento do velho Theatro Guayra, em 1937, pelo prefeito Aluizio França, perdemos o palco oficial do Paraná que foi substituído pelos palcos de imigrantes da Verein Deutscher Saengerbunde, do Teatro Hauer, da Weringe Thalia, da Teuto Brasilianischer Turnverein, dentre outras, gerando a diminuição do fluxo de companhias estrangeiras e o declínio das composições de caráter nativo e operístico.
Parece que desde então não voltamos ao esplendor do cenário da ópera paranaense de outrora.
Para abrir o festival, a singular opereta Marumby, jóia do sotaque musical do Paraná e libreto crítico que marcou época, que carece ser estudado pela inteligência nativa. Encerrando essa primeira edição, Sidéria, considerada nossa primeira ópera séria, que abriu definitivamente naquele 1912 o portal deste gênero musical em nosso Estado.
Seja este festival uma seara para união, alegria e luz, sobre os tempos sombrios que vive a cultura nacional.
Gehad Ismail Hajar
Produtor e Curador