June 9, 2014
No espetáculo teatral, ‘Memórias Torturadas: a Ditadura e o Cárcere no Paraná’, narra a história verídica de quatro presos políticos detidos pela Ditadura Militar na chamada “Operação Marumby”
Juliana Prado
Tudo começaem 2006, quando GehadHajar, bacharel em Direito (PUCPR), especialista em direito socioambiental (PUCPR), pesquisador sobre a história do Paraná e Conselheiro Municipal de Cultural de Curitiba se deparou com uma pesquisa que apontava que a maioria dos curitibanos queria a volta da Ditadura Militar. Isso era um indicativo que não se conhecia os anos de repressão, e que a “força” dos militares traria uma sensação de segurança e de honestidade. Um produto cultural para abordar o assunto seria o movimento ideal.
A ideia da peça Memórias Torturadas: a Ditadura e o Cárcere no Paraná era contar a vida e o cárcere de quatro dos presos políticos na Operação Marumbi, já falecidos, e narrar fatos desconhecidos da repressão no cone sul. Demoraram seis anos, de 20016 a 2012, apenas para coleta de dados. Foram feitas pesquisas nos documentos do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) e acervos no Arquivo Público do Paraná, que foi o primeiro do Brasil a evidenciar esses materiais para do público. Completando as pesquisas com depoimento dos presos políticos ainda vivos e na leitura de Memórias Torturadas (e Alegres) de um Preso Político que foi escrita pelo Ildeu Manso Vieira.
Memórias Torturadas entrou para a programação do Festival de Curitiba em 2013, mas a produção teve uma longa batalha política para conseguir autorização para encenar dentro do presídio do Ahú. Na época, o prédio ainda estava em atividade, e foi objeto de um longo processo administrativo para liberações, que foi desde a Secretaria de Estado da Segurança Pública, Polícia Militar, Secretaria da Justiça, e que terminou no despacho do desembargador presidente do Tribunal de Justiça.
As esferas públicas foram sensíveis à causa e despacharam favoravelmente, implicando algumas ressalvas de segurança. Conforme o tempo foi passando Gehad comenta que as dificuldades aumentaram: “No decorrer da produção, ‘alas’ de certas carreiras começaram a implicar complicações no trânsito da equipe, na entrada de equipamentos, e chegaram a tentar extorquir a produção”. Foram exatamente 30 dias de produção, montagem e ensaios.“Realizar uma peça teatral, num presídio que tinha uma triagem com 67 presos de alta periculosidade, colocando os espectadores e equipe no mesmo espaço, foi quase uma ideológica traquinagem!” enfatiza Gehad.
Atualmente o prédio está em obras para servir de sede para as varas cíveis da capital. Por isso, neste ano, a solução foi adaptar o palco tradicional de teatro e utilizar audiovisual na parte das narrações. Hajar ressalta: “A atriz IttalaNandi, da Rede Record, analisou o texto da peça e me indicou o que mudar para que funcione no teatro tradicional. Sabemos que nada substituirá a experiência de remontar uma história dentro no lugar onde tudo ocorreu. Mas as ocorrências históricas e a necessidade de narrá-la valem a tentativa de remontar.”
A peça foi criada para os jovens, que segundo Gehad responderam bem a inauguração do espetáculo. "Adorei o público jovem responder a estreia. Foi para eles mesmo que escrevemos essa peça. Mesmo porque eu não vivi a Ditadura, não tenho a real dimensão do que esses presos passaram. Mas, quero mostrar que pessoas morreram, ou ficaram loucas para que a gente viva em uma democracia e que democracia não é eleição direta, é o exercício diário", declarou.