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Enedina M., a nova bandeira black power

Excerto de José Carlos Fernandes. 

Enedianas

O benfeitor
É de consenso entre os pesquisadores da vida de Enedina Alves Marques que seu maior benfeitor foi o major e delegado Domingos Nascimento Sobrinho. De acordo com relatos da neta de Domingos, a historiadora e professora aposentada Ezuel Hostins, 66 anos, afilhada de Enedina, o avô fazia diligências pelo interior e trazia gente para cumprir medidas na capital. Como morava no bairro do Portão, não raro os apreendidos faziam pernoite no casarão da família. Tempos depois, esses homens voltavam, pedindo ajuda a Nascimento. Esse vaivém deu ao major a fama de benfeitores de negros – uma espécie de Oscar Schindler da comunidade. O feito mais concreto foi ter mantido Enedina nos estudos, “pagando-lhe o bonde”, para que estudasse com Isabel, a única filha dentre os seis filhos de Domingos Nascimento. Quando morreu, em 1958, sua beneficiada era engenheira formada.
Bebeca
Apesar da grande amizade que uniu a negra Enedina e a branca Isabel, filha de Domingos Nascimento – ambas cursaram juntas o Instituto de Educação e se formaram no curso Normal -, a amizade foi abalada. Familiares dizem desconhecer o motivo do rompimento. Mesmo assim, a amizade com os demais continuou. “Ela era engraçada. Vaidosa. Se tinha pedrinha no chão, tirava os sapatos e ia descalço para não estragá-los”, conta o comerciante Francisco Brasil Nascimento, 54 anos, um dos netos de Domingos.
Nos EUA
Uma vez estabelecida no setor de engenharia do governo do estado, Enedina se dedicou a viajar, o que não era tão fácil nos anos 1950 e 1960. Tida como “pão duro”, trazia chaveirinhos de lembrança. Antiamericana, demorou a conhecer os Estados Unidos. Quando o fez, conta a afilhada Ezuel Hostins, perdeu o passaporte e teve problemas para embarcar. Foi tão bem tratada pelas autoridades dos EUA que mudou sua opinião sobre o país.
Na escola
O pesquisador Gehad Ismail Hajar investiga o movimento de alfabetização de negros no estado do Paraná. Interessa-lhe, em especial, o negro andarilho Joaquim da Costa Turíbio, criador nos anos 1910 do Clube Modelo – uma escola para negros – e os professores José Cleto da Silva e Nivaldo Braga, que na mesma época se dedicaram a essa comunidade. Hajar acredita que esses pioneiros garantiriam, indiretamente, a chegada de Enedina Marques à escola. Ela teria sido alfabetizada aos 12 anos, em 1925, por uma professora particular, possivelmente a educadora Luiza Dorfmund, descendente da mítica Emília Erichsen, educadora pioneira nos Campos Gerais.

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