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Teatro fora dos palcos

Nesses dias de Festival de Teatro de Curitiba, muita gente que circula por praças, bares e espaços públicos da capital paranaense deve ter ''esbarrado'' em alguma intervenção cênica ligada à mostra. Como acontece na maioria desses grandes eventos no Brasil e no mundo afora, os espetáculos em espaços alternativos ganharam força e assumiram um papel importante no Festival, seja para democratizar a arte, seja por um conceito artístico.

A trama de ''Memórias Torturadas - A Ditadura e o Cárcere no Paraná'' é baseada em fatos reais e foi escrita para se desenrolar no lugar onde os personagens sofreram as agressões praticadas pela ditadura militar, o Presídio do Ahú, em Curitiba. O lugar, agora desativado, já serviu de locação para novela e filmes, mas é a primeira vez que o público segue os atores em uma peça de teatro pelo pátio e celas do complexo.

O cenário e o horário (meia-noite) foram escolhidos pelo produtor Gehad Hajar para compor o clima de medo. Foram as celas do Presídio do Ahú que receberam, na década de 1970, presos políticos da Operação Marumby. A peça, da BG Produções, chamou a atenção do público, tanto que duas sessões extras foram abertas.

No teatro, chama-se de espaço alternativo aquele que é diferente de uma sala com local específico para plateia e um palco (italiano, arena ou semi-arena). Muitos bares de Curitiba, por exemplo, viraram cenário para peças do Fringe (mostra paralela do Festival de Teatro). O Bar Libertadores, no Jardim São Francisco, foi o escolhido pelo diretor Humberto Gomes para receber os atores de ''Entre Tantas Coisas'', da Cena Hum Academia de Artes Cênicas. A peça, um musical, fala do reencontro, desencontros e desabafos de cinco amigos.

e ''Entre Tantas Coisas'' fosse encenado em um teatro, o cenário reproduziria um bar com cadeiras, mesas, copos e garrafas. Por que, então, não levar atores e público para um bar de verdade e acabar conquistando aquelas pessoas que desconhecem a agenda cultural, mas adoram um boteco?
Humberto Gomes é fã de espaços alternativos e montou, em 2006, uma companhia, a Ganesh, cujo foco é pesquisar locais da cidade que possam abrigar espetáculos. Gomes destaca dois aspectos importantes em uma peça concebida para um espaço alternativo. A primeira é a solução criativa que ela representa e a segunda diz respeito à formação de público: ''Pessoas que não iriam ao teatro vão assistir ao espetáculo''.
O diretor tem no currículo pelo menos cinco espetáculos escritos para espaços alternativos apresentados nas edições anteriores do Festival de Curitiba. Em 2006, ''Quarto de Hotel'' foi encenado em um quarto do Hotel Bristol Brasil 500. No ano seguinte, foi a vez do diretor levar para a saída de emergência do Memorial de Curitiba a peça ''Saída de Emergência''. No festival de 2008, a peça ''Elevador'' foi apresentada no elevador do Centro de Convenções de Curitiba. Em 2009, os atores de ''Xarope para Acabar com a Tosse'' ocupavam o espaço de uma loja de produtos para chás. Humberto Gomes também ganhou o prêmio Gralha Azul de Melhor Direção de Espetáculos Para Crianças pela peça de rua ''Fábula do Vento Sul''.

Gomes frisa que a escolha pelo espaço alternativo não é a mais fácil ou mais barata. ''Todo lugar pode receber uma peça, mas desde que tenha um propósito'', resume. Na opinião dele, trata-se de uma forma diferente de atingir o público e convidá-lo a ter uma vivência muito próxima da história.

Serviço:
- Memórias Torturadas - A Ditadura e o Cárcere no Paraná - Quinta (05), sexta e sábado, às 23h59, na Penitenciária do Ahú (Av. Anita Garibaldi, 750). Sessões extras às 21h nos dias 6 e 7. Entrada a R$ 30 (inteira).



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