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No Paraná teve ditadura? Sim, senhor!

Peça curitibana encenada no presídio do Ahú relembra e apresenta fatos de tortura e repressão do regime militar no Paraná
Reportagem Higor Lambach
Edição Stephanie D´Ornelas
 
Presídio do Ahú é o palco da peça que conta a história da ditadura no Paraná
Presídio do Ahú é o palco da peça que conta a história da ditadura no Paraná

Em 2006, uma pesquisa revelou que Curitiba tem o maior número de jovens que desejam a volta da ditadura. Chocado com isso, Gehad Hajar, desde então, começou a pesquisar e entender o período de repressão no Paraná. Foi assim que surgiu a peça Memórias Torturadas – A Ditadura e o Cárcere no Paraná. “Foram sete anos de pesquisa em que desvendei e descobri muitas coisas sobre a história do estado e Curitiba. A dificuldade é que não há produção acadêmica sobre o período”, conta o autor e diretor da peça.

Segundo ele, o desejo de um retrocesso à democracia é prova do desconhecimento. Para isso, a arte tem função social de informar sobre a democracia, formar opinião e disformar a ideia de ditadura. Paulo Ney, ator que interpreta o preso político Jodat Nicolas Kury, comenta que as pessoas querem se sentir protegidas. “A sociedade quer segurança a qualquer custo, mesmo que isso limite a liberdade”, explica.

A peça não tem nenhuma cena de agressão, já que os suspeitos eram torturados em clínicas e lugares secretos. Baseada em histórias reais e fatos marcantes, o público vai descobrir que o líder cubano Che Guevara já andou pela Rua Pedro Ivo e que Curitiba, por quatro dias, foi a capital do Brasil. Além de entender a Operação Marumby, braço da Operação Condor, em que regimes militares na América do Sul se uniram para eliminar adversários políticos aqui no Paraná.


Por dentro da cadeia

Já na entrada do Presídio do Ahú, o desconforto se revela. O confortável hall de um grande teatro passa longe do espaço em que o ansioso público fica. Nos rostos, a novidade mistura empolgação e medo. As normas de seguranças são obrigatórias, já que a prisão ainda conta com 80 detentos, em fase de triagem. Até para equipe, o primeiro contato foi estranho. “Nunca tinha entrado, a primeira impressão foi de choque, mas depois com o trabalho no dia a dia, tudo fica mais tranquilo”, conta Leandro Paulista da Silva, assistente de operação.

Acompanhados pela equipe com lanternas, a plateia é conduzida a encarar o sofrimento de Ildeu Manso Vieira (Carlos Vilas-Boas) – também diretor - e, logo após, subir para a ala dos presos. Sentados no chão ou presos nas celas, as pessoas sentem o frio e experimentam a dor e agonia de quatro vidas presas, no ambiente em que na década de 70, tudo ocorreu.

Nas paredes, os nomes escritos, com carvão, de todos que passaram pela prisão. O artista plástico, cenógrafo do espetáculo, Gustavo Krelling conta que se inspirou na obra do artista português Artur Barrio na utilização das cordas, objetos pendurados e o próprio carvão. “Não queria mexer em um espaço que já é cenográfico”. O resultado é uma realidade que até arrepia. Ao todo o processo de liberação do presídio e produção durou seis meses. Para Gehad, o palco deveria ser a prisão. “A história aconteceu aqui, essas paredes ouviram tudo”.
Na estreia, no dia 29, Carlos Molina, um preso político do mesmo período, se emocionou e só conseguiu agradecer a organização pelo realismo e sensibilidade do espetáculo.

http://www.jornalcomunicacao.ufpr.br/node/11132

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