A última
entrevista da Série Especial “Dia Internacional da Mulher” abordará
questões a respeito da mulher em diferentes culturas, o pesquisador do
Núcleo de Estudos dos Processos Identitários, das Etnias, das Crises e
da cultura árabe, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Gehad Hajar,
salienta que a grande questão a ser analisada é a forma como
interpretamos essas mulheres.
“É sempre recorrente sermos etnocêntricos – interpretar a cultura alheia pelos nossos modelos, nossos princípios, nossa formação. Isso é um erro.” Para ele, o correto é analisar e interpretar o outro dentro do seu contexto, da sua formação, de seus princípios e sem interferência de opiniões.
“É sempre recorrente sermos etnocêntricos – interpretar a cultura alheia pelos nossos modelos, nossos princípios, nossa formação. Isso é um erro.” Para ele, o correto é analisar e interpretar o outro dentro do seu contexto, da sua formação, de seus princípios e sem interferência de opiniões.
Hajar
estuda as mulheres árabes, em especial as muçulmanas, inclusas não
somente em países de maioria islâmica, mas também em comunidades
relevantes pelo mundo – onde há grande número de muçulmanas convertidas.
Jornal
Santuário de Aparecida – A mulher em outras culturas ainda é tratada
como objeto. Acredita que em outras partes do mundo, já acontece
mudanças de paradigmas ou é uma barreira muito grande a ser transposta?
Gehad Hajar -
A grande questão a ser analisada é a forma como interpretamos “outras
culturas”. É sempre recorrente sermos etnocêntricos – interpretar a
cultura alheia pelos nossos paradigmas, nossos princípios, nossa
formação. O que é um erro. Temos de analisar e interpretar o outro
dentro do seu contexto, de sua formação, de seus princípios e sem
interferência de nossas opiniões. A questão de ver a mulher de outro
meio e estrutura social como objeto é etnocêntrica. Para nós ocidentais,
uma mulher que usa véu nos países islâmicos pode parecer oprimida, tal
qual uma mulher brasileira, nua numa propaganda de cerveja, ofende às
muçulmanas por ser um mero objeto do mercado.
JS- Qual o perfil de mulher que você estuda? Em quais sociedades elas se encontram?
Gehad Hajar –
Nosso objeto de estudo são as mulheres árabes, em especial as
muçulmanas, inclusas não somente em países de maioria islâmica, mas em
comunidades relevantes pelo mundo – onde há grande número de muçulmanas
convertidas e/ou não árabes. A maior parte das pessoas convertidas para
religião são mulheres, o que reforça o interesse da pesquisa.
JS- Qual é o papel delas na família e na comunidade?
Gehad Hajar – São tidas como progenitoras e como cerne da sociedade islâmica.
JS-Qual a taxa de natalidade média nas sociedades em que você aplica os estudos?
Gehad Hajar - São 46 os países de maioria muçulmana, e eles variam de uma taxa de natalidade de 2,1 a 6,6 filhos por mulher.
JS- Como elas próprias se enxergam?
Gehad Hajar -
Embora hajam extremismos pontuais com relação ao tratamento das
mulheres, atualmente as mulheres tiveram direito de votar e serem
votadas, estudarem, terem profissões, administrarem seus bens
JS- Qual é o maior desafio delas enquanto mulheres?
Gehad Hajar -
Hoje, a mulher muçulmana trabalha para ver garantidos seus direitos,
que em certa medida, não são lhes garantido pelas atuais estruturas
sociais. Um breve exemplo são os direitos da mulher frente a um
casamento: O Direito de escolher o marido, de permanecer com o nome de
sua família, sem agregar ou mudar para o nome da família do marido e
também de pedir o divórcio.